22 e ainda querendo dilatar a vida em comparações metáforas e poemas, ainda não sou tão triste assim

a chuva veio para me fazer sentir novamente
atentar para o mundo que arde ao meu redor
enquanto pessoas dançam sozinhas
em um todo que convulsiona
e amadurecer é "insensível" ao que fica
é um espaço entre os pulmões e tem dias
que não sei o que é respiração ou silêncio
velo o sono do amor e às vezes
ela me beija a nuca
mordisca minha cabeça-arrepio
e vai embora e gosto
mesmo assim

22 e ainda não aprendi a respirar como dizem para fazer
22 e ainda sem rosto fetalmente me encolhendo por de baixo dos lençóis ou em abraços sôfregos
22 e já não consigo recorda das minhas lembranças infantis preferidas
os chocolates parecem tão doces que me arripunam a língua
não sei se é a idade estúpida de virar adulto (que deus me livre)
ou doença

o que será de mim sem meu óasis de reminiscências
como quando a paisagem era apenas o horizonte da casa de vó
e quando o sol se punha mãe já estava com a janta pronta para mim?
o kinder ovo, os geloucos do Alex, tazos, cartas de yugui oh e dragon ball z
o bobo do bob esponja colado no caderno
o jogo de bafo que se roubava com cuspe (hahaha)
50 centavos para jogar nitendo na locadora
minha paixãozinha pelas meninas
ah... as cascas das feridas que coçavam!
ainda hoje mostro orgulhosa minhas canelas

crescer e saber
que não há chão que nos ampare
que o provérbio "que do chão não passa"
não alivia mais e isso assusta o corpo se debate
tem horas que é até divertido e amável
como quando vi pulsar nos olhos do menino
que limpa vidros de carros
a humanidade esquecida dizendo
"beija ela também moço"
viver é como aprender andar bicicleta...
numa que é desproporcional para seu tamanho
e com um dos pneus furado e a cada freada
ela te acerta entre as pernas


rs
clareza dói...
mas a gente aprende
a cerrar os olhos e os punhos

22 e ainda amo

Ana Mendes